quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Entrevista aos diretores do Correio do Ribatejo



A turma de Técnico de Apoio à Gestão 28, do Centro de Formação Profissional de Santarém do IEFP, saiu à rua no dia 03 de novembro, para uma visita ao Jornal Correio do Ribatejo.

Em resultado desta visita, segue uma breve entrevista conduzida pelos formandos ao diretor da publicação, Dr. Paulo Narciso e à diretora adjunta Drª. Teresa Moreira.

Formandos - Em média, semanalmente, quantos exemplares do Correio do Ribatejo saem?

Paulo Narciso - Ronda os cinco mil exemplares.

Formandos - Quantos colaboradores e funcionários trabalham nesta casa?

Paulo Narciso - Esta casa faz-se com poucas pessoas, temos 4 colaboradores a tempo inteiro, não contando com a Dra. Teresa M. Lopes, nem com o Ludgero Mendes que dão muito de si a esta casa. O solicitador Domingos Cabral, o nosso "Policiarista", que escreve uma pagina inteira de textos sobre investigação. Assim como o Vitor Serrão, que seguiu as pegadas do seu pai, José Serão, também dão muito deles a este jornal. Temos pessoas que vão herdando os lugares dos pais.

Formandos - Apesar de contarem com os vossos colaboradores, quantos jornalistas trabalham no jornal?

Paulo Narciso - Atualmente, contamos com dois jornalistas profissionais e possivelmente contaremos com um 3º no próximo ano.

Formandos - É possível viver do jornalismo regional e local? 

Teresa M. lopes - É sim! O jornal tem que se pagar a ele próprio. Obviamente, o jornal tem muitas despesas, tais como os impostos, ordenados, seguros, correios e todas essas coisas. Temos despesas brutais, mas o jornal ainda se paga a ele próprio, senão já tínhamos fechado as portas. 

Formandos - Com o aparecimento do jornal O Ribatejo, não temeram a concorrência?

Teresa Moreira - Nós sempre vivemos com a concorrência. Como já perceberam existiam outros jornais, aliás, até ao Estado Novo existiam muitos jornais em Santarém, as pessoas é que não têm essa perceção. Existia o Cabaceiro, o Diário do Ribatejo, havia muita coisa… Depois, nos anos 40, não havia concorrência, nos anos 60 surgem realmente outros jornais, como o jornal O Ribatejo. Nós sempre lidámos com a concorrência, hoje em dia, lidamos com a concorrência dos jornais O Ribatejo e Mirante, mas temos uma linha editorial completamente diferente. Os nossos títulos não chocam, porque nós temos percursos completamente diferentes, aliás se folhear qualquer um dos três jornais, vai ver que a mesma notícia, nos três jornais, não têm a mesma forma de ser apresentada, temos conceitos diferentes.

Formandos - Sendo um jornal de tradição Marcelista, do tempo do Dr. Arruda. Como lidam com esse passado? Há quem ainda vos identifica com uma linha de direita. Consegue um jornal ser realmente independente?

Paulo Narciso - A linha Marcelista surge com o João Arruda e seu filho, Dr. Virgílio Arruda continuou-a.
A independência no jornal é relativa, não existe. Independente, só mesmo o nome do jornal Independente.  Virgílio Arruda vivia no meio Marcelista, ele era seu amigo e colega, entre eles, Marcelo e Virgílio Arruda, trocavam correspondência.

Teresa Moreira - A questão do Marcelismo nos anos trinta ainda nem se colocava. O Sr. João Arruda nem sequer estava perto da política adotada por Marcelo Caetano, que é mais liberalista, no entanto, houve um período, nos anos trinta, que João Arruda até foi numa excursão… levou mantimentos aos apoiantes de Franco a Badajoz, mais depois vai moderando a coisa, o jornal teve várias fações, mas filiado a um partido foi só nessa altura, hoje isso não acontece.

Paulo Narciso - Hoje em dia, o correio do Ribatejo não é seguidor da linha Marcelista, mas tenta ser correto e coerente com todas as linhas políticas. Tentamos ser o mais corretos para com todos e, exemplo disso, foi o que aconteceu com a entrevista aos 6 candidatos à Câmara de Santarém, durante as ultimas eleições Autárquicas.  Todos os concorrentes tiveram o mesmo espaço jornalístico.

Formandos - Já teve alguma dúvida em relação a alguma notícia que tenha publicado?

Paulo Narciso - Dúvida em que sentido?

Formandos - Publicá-la ou não!?

Paulo Narciso - Já! Tenho 21 anos de jornalista.

Formandos - Mas publicou?

Paulo Narciso - Sim! Tenho 21 anos de jornalista e publico notícias que um diretor do jornal publica porque acha que tem de publicar. O leitor Paulo Narciso não se reconhece nessas notícias.
O leitor Paulo Narciso não as publicaria. Eu explico! Eu explico! Pode ser confuso, isto é uma guerra interior, já que se trata da mesma pessoa.
Eu não faço jornais para o meu umbigo, faço jornais para as pessoas lerem, as pessoas não têm forçosamente que concordarem com o que eu escrevo, e não tenho que concordar com… posso estar a ver assim, mas estar a ver mal, os jornais não são feitos á medida do meu umbigo.
Já publiquei textos e até mesmo artigos de opinião, que não concordo com eles e que me custaram um bocadinho a publicar… mas, publico porque há uma missão que é informar, não me deu gozo nenhum entrevistar para as autárquicas o candidato do PNR, que tem três páginas de jornal inteiras. Espaço que nunca mais terá na vida, em nenhum órgão de comunicação social, porque não me revejo naquele partido, Partido Nacional Renovador. Há as questões da ética e deontologia. Quando fizemos este trabalho, Santarém tinha seis candidatos à Câmara Municipal. Este candidato era um candidato como os outros e podia ter ganho as eleições se tivesse mais votos! Tudo o que eu penso pessoalmente, não tem nada a ver. Garanto-vos que teve o mesmo tratamento que o Senhor que foi eleito mereceu. É a nossa visão do jornalismo que nos obriga a fazer isto.
Um mês antes das eleições houve um sorteio entre um representante de cada partido. Quisemos ser corretos com todos os que foram entrevistados e todos tiveram o mesmo tamanho de página e as mesmas garantias.

Formandos - Pondera publicar uma notícia da qual não tenha a confirmação a 100%?

Paulo Narciso - Nunca publicaria uma notícia que não estivesse seguro… No mundo do jornalismo também há inconvenientes! Eu nunca esperei ver desmentido o falecimento de uma pessoa. Coisa que era impossível de acontecer antes. Hoje em dia, com a pressa de dar uma notícia, as pessoas dizem morreu “fulano tal”, e depois passados cinco minutos afinal “fulano tal” não morreu, isto é gravíssimo.

Formandos - Costumam publicar as mesmas notícias online e na publicação impressa?

Paulo Narciso - Publicamos algumas iguais e outras diferentes. Já publicámos notícias online que não publicámos em papel. Como o papel é finito e o online não, temos mais espaço e margem de manobra para publicar notícias que não costumamos colocar na edição impressa.
Apesar do online não ser completamente infinito, alberga muito mais espaço para informação, conforme os gigabites que são adquiridos nos servidores.

Formandos - Têm algum critério de número de atualizações por dia?

Paulo Narciso - O site é atualizado diariamente, não com o ritmo que gostaríamos, porque a equipa é curta. São muitos eventos para poucos jornalistas. Não temos nenhum critério, depende dos dias!
Há dias em que fazemos 3, 4, 5 por hora e outros dias são mais calmos.

Formandos - O que dizem os números online?

Paulo Narciso - É possível contabilizar os gostos, as pessoas que partilham vídeos. Dizem que as pessoas gostam mais de ver vídeos, não interessam textos muito longos e profundos. As pessoas ligam mais a banalidades, frases de simplicidade extrema, que não exigiram muito esforço. Essas têm 10 vezes mais visualizações do que um texto que demorámos 2 a 3 dias a fazer.

Formandos - Acredita que o jornal impresso será substituído pelo jornal digital? Se sim, o que acontecerá aos jornais com menores dimensões?

Paulo Narciso - Não. Exatamente por não acreditarmos que continuamos a investir no papel, nós também temos todas aquelas partes, Facebook, sites, telemóveis, mas continuamos a acreditar que o papel terá um peso importante.

Formandos - É uma realidade que cada vez mais as pessoas não ligam a coisas importantes ou culturais com conteúdo. Cada vez mais o que se trata são banalidades… Não o preocupa que o jornalismo esteja a morrer, as pessoas leem cada vez menos?

Paulo Narciso - De uma maneira geral, em relação ao jornalismo, anteriormente fazia-se de maneira diferente. Em certas visitas estatais haveria a necessidade de usar o excelentíssimo senhor doutor, ou, no vosso caso, teríamos de por todos os vossos nomes completos.
Era outro tempo, com diferentes modos e regras. Havia mais poesia. Mais texto. Agora é tudo mais seco… dantes as pessoas faleciam… hoje morrem. Hoje em dia vivemos muito online!
E como se financiam estes projetos? Não é a publicidade da ‘’mercearia’’ que nos vai financiar. Não… estamos condicionados. As grandes receitas vêm das grandes marcas. Apenas 10% vêm de outros, está tudo condicionado, os outros ficam com os restos.
Em relação ao condicionalismo jornalístico a profissão de jornalista está quase acabada, hoje fala-se em gestores de conteúdos. Hoje em dia, tira-se um curso de jornalismo e se calhar vai para uma redação e faz tudo menos jornalismo… vai fazer coisas banais. O jornalismo global é mais instantâneo.
Onde se vai buscar o dinheiro? Primeiro estão a ver a notícia online e cai-lhe logo um vídeo em cima depois escolhem e botam para escolher o vídeo max. 20/30 segundos e depois aparecem 3 frases da noticia. Por cada click então a dar dinheiro à empresa. As marcas depois perguntam quantos clicks têm por hora… ‘‘tem 2 milhões’’ ok, pagamos ‘x’!
As pessoas perguntam quanto é a tiragem do Correio do Ribatejo. 5 mil exemplares… mas, online são os clicks que contam. Os gostos, as partilhas, etc…. é isso que é vendido! É Isso que as marcas pretendem saber, para apostar nesse projeto ou não. Em certa medida, algumas dessas empresas aderem por aí …. Dá-lhes receita!
Nós temos alguma receita com a publicação online, temos feito pelo nome, mas o sustento da casa tem sido o formato em papel… o site não paga os custos que temos. É preciso licenças para ter o site, blog etc…. os custos para estar online, envolvem ter um servidor, mas são reduzidos em relação ao papel!
Nesta indústria, há concentração do dinheiro, pelos mesmos grupos (tubarões). Hoje em dia são esses grupos que concentram o poder da imprensa. Que têm 2 ou 3 rádios e 6 jornais, tudo da mesma empresa. Em Portugal são muito poucos os verdadeiros patrões. Há mais de 30 a 40 mil jornalistas sem fazer nada.

Formandos – Consegue a poupança reduzindo a qualidade da impressão?

Paulo Narciso - São altos os custos de imprimir 4 edições mensais do jornal. Lá fora é mais barato imprimir e mandamos imprimir em Vigo (Espanha). Isto é tudo papel importado. Este, por acaso, vem da Alemanha e é impresso em Vigo. Este jornal é fechado em Pdf até às oito horas da noite de quarta feira. É fechado em Pdf’s e mandado para a gráfica que trabalha com chapa. Já não há muitas a trabalhar aqui perto. Já não há rotativas. Mirandela tinha uma rotativa em que dentro da máquina trabalhavam 12 pessoas e tinha 3 andares, aliás, o armazém de Mirandela foi feito à medida da máquina. Primeiro compraram a máquina e só depois fizeram o armazém à medida da máquina… aquilo era um castelo.





Link para o documento em Word

Sem comentários:

Enviar um comentário