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quinta-feira, 4 de janeiro de 2018
Exemplos de "internetês"
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quarta-feira, 3 de janeiro de 2018
Entrevista aos diretores do Correio do Ribatejo
A turma de Técnico de Apoio à Gestão
28, do Centro de Formação Profissional de Santarém do IEFP, saiu à rua no dia
03 de novembro, para uma visita ao Jornal Correio do Ribatejo.
Em resultado desta visita,
segue uma breve entrevista conduzida pelos formandos ao diretor da publicação, Dr.
Paulo Narciso e à diretora adjunta Drª. Teresa Moreira.
Formandos
- Em média, semanalmente, quantos exemplares do Correio do Ribatejo saem?
Paulo
Narciso - Ronda os cinco mil
exemplares.
Formandos -
Quantos colaboradores e funcionários trabalham nesta casa?
Paulo Narciso - Esta casa faz-se com poucas pessoas, temos 4 colaboradores a tempo
inteiro, não contando com a Dra. Teresa M. Lopes, nem com o Ludgero Mendes que
dão muito de si a esta casa. O solicitador Domingos Cabral, o nosso
"Policiarista", que escreve uma pagina inteira de textos sobre
investigação. Assim como o Vitor Serrão, que seguiu as pegadas do seu pai, José
Serão, também dão muito deles a este jornal. Temos pessoas que vão
herdando os lugares dos pais.
Formandos - Apesar
de contarem com os vossos colaboradores, quantos jornalistas trabalham no
jornal?
Paulo Narciso - Atualmente, contamos com dois jornalistas profissionais e possivelmente
contaremos com um 3º no próximo ano.
Formandos
- É possível viver do jornalismo regional e local?
Teresa M. lopes - É sim! O jornal tem que se pagar a ele próprio. Obviamente, o jornal
tem muitas despesas, tais como os impostos, ordenados, seguros, correios e
todas essas coisas. Temos despesas brutais, mas o jornal ainda se paga a ele
próprio, senão já tínhamos fechado as portas.
Formandos
- Com o aparecimento do jornal O Ribatejo, não temeram a concorrência?
Teresa
Moreira - Nós sempre vivemos
com a concorrência. Como já perceberam existiam outros jornais, aliás, até ao
Estado Novo existiam muitos jornais em Santarém, as pessoas é que não têm essa
perceção. Existia o Cabaceiro, o Diário do Ribatejo, havia muita coisa… Depois,
nos anos 40, não havia concorrência, nos anos 60 surgem realmente outros jornais,
como o jornal O Ribatejo. Nós sempre lidámos com a concorrência, hoje em dia,
lidamos com a concorrência dos jornais O Ribatejo e Mirante, mas temos uma
linha editorial completamente diferente. Os nossos títulos não chocam, porque
nós temos percursos completamente diferentes, aliás se folhear qualquer um dos
três jornais, vai ver que a mesma notícia, nos três jornais, não têm a mesma
forma de ser apresentada, temos conceitos diferentes.
Formandos
- Sendo um jornal de tradição Marcelista, do tempo do Dr. Arruda. Como lidam
com esse passado? Há quem ainda vos identifica com uma linha de direita.
Consegue um jornal ser realmente independente?
Paulo
Narciso - A linha Marcelista
surge com o João Arruda e seu filho, Dr. Virgílio Arruda continuou-a.
A
independência no jornal é relativa, não existe. Independente, só mesmo o nome
do jornal Independente. Virgílio Arruda vivia no meio Marcelista, ele
era seu amigo e colega, entre eles, Marcelo e Virgílio Arruda, trocavam
correspondência.
Teresa
Moreira - A questão do Marcelismo nos anos trinta ainda nem se
colocava. O Sr. João Arruda nem sequer estava perto da política adotada por
Marcelo Caetano, que é mais liberalista, no entanto, houve um período, nos anos
trinta, que João Arruda até foi numa excursão… levou mantimentos aos apoiantes
de Franco a Badajoz, mais depois vai moderando a coisa, o jornal teve várias
fações, mas filiado a um partido foi só nessa altura, hoje isso não acontece.
Paulo
Narciso - Hoje em dia, o
correio do Ribatejo não é seguidor da linha Marcelista, mas tenta ser correto e
coerente com todas as linhas políticas. Tentamos
ser o mais corretos para com todos e, exemplo disso, foi o que aconteceu com a
entrevista aos 6 candidatos à Câmara de Santarém, durante as ultimas eleições Autárquicas. Todos os concorrentes tiveram o mesmo espaço
jornalístico.
Formandos - Já teve
alguma dúvida em relação a alguma notícia que tenha publicado?
Paulo Narciso - Dúvida em que sentido?
Formandos - Publicá-la
ou não!?
Paulo Narciso - Já! Tenho 21 anos de
jornalista.
Formandos - Mas
publicou?
Paulo Narciso - Sim! Tenho 21 anos de jornalista e publico
notícias que um diretor do jornal publica porque acha que tem de publicar. O
leitor Paulo Narciso não se reconhece nessas notícias.
O leitor Paulo Narciso não
as publicaria. Eu explico! Eu explico! Pode ser confuso, isto é uma guerra
interior, já que se trata da mesma pessoa.
Eu não faço jornais para o
meu umbigo, faço jornais para as pessoas lerem, as pessoas não têm forçosamente
que concordarem com o que eu escrevo, e não tenho que concordar com… posso
estar a ver assim, mas estar a ver mal, os jornais não são feitos á medida do
meu umbigo.
Já
publiquei textos e até mesmo artigos de opinião, que não concordo com eles e
que me custaram um bocadinho a publicar… mas, publico porque há uma missão que
é informar, não me deu gozo nenhum entrevistar para as autárquicas o candidato
do PNR, que tem três páginas de jornal inteiras. Espaço que nunca mais terá na
vida, em nenhum órgão de comunicação social, porque não me revejo naquele
partido, Partido Nacional Renovador. Há as questões da ética e deontologia. Quando
fizemos este trabalho, Santarém tinha seis candidatos à Câmara Municipal. Este candidato
era um candidato como os outros e podia ter ganho as eleições se tivesse mais
votos! Tudo o que eu penso pessoalmente, não tem nada a ver. Garanto-vos que teve
o mesmo tratamento que o Senhor que foi eleito mereceu. É a nossa visão do
jornalismo que nos obriga a fazer isto.
Um
mês antes das eleições houve um sorteio entre um representante de cada partido.
Quisemos ser corretos com todos os que foram entrevistados e todos tiveram o
mesmo tamanho de página e as mesmas garantias.
Formandos
- Pondera publicar uma notícia da qual não tenha a confirmação a 100%?
Paulo
Narciso - Nunca publicaria uma notícia que não
estivesse seguro… No mundo do jornalismo também há inconvenientes! Eu nunca
esperei ver desmentido o falecimento de uma pessoa. Coisa que era impossível de
acontecer antes. Hoje em dia, com a pressa de dar uma notícia, as pessoas dizem
morreu “fulano tal”, e depois passados cinco minutos afinal “fulano tal” não
morreu, isto é gravíssimo.
Formandos
- Costumam publicar as mesmas notícias online e na publicação impressa?
Paulo
Narciso - Publicamos algumas iguais e outras
diferentes. Já publicámos notícias online que não publicámos em papel. Como o
papel é finito e o online não, temos mais espaço e margem de manobra para
publicar notícias que não costumamos colocar na edição impressa.
Apesar
do online não ser completamente infinito, alberga muito mais espaço para
informação, conforme os gigabites que são adquiridos nos servidores.
Formandos
- Têm algum critério de número de atualizações por dia?
Paulo
Narciso - O site é atualizado diariamente, não com o ritmo
que gostaríamos, porque a equipa é curta. São muitos eventos para poucos
jornalistas. Não temos nenhum critério, depende dos dias!
Há dias em que fazemos 3, 4, 5 por hora e outros
dias são mais calmos.
Formandos
- O que dizem os números online?
Paulo
Narciso - É possível contabilizar os gostos, as pessoas
que partilham vídeos. Dizem que as pessoas gostam mais de ver vídeos, não
interessam textos muito longos e profundos. As pessoas ligam mais a
banalidades, frases de simplicidade extrema, que não exigiram muito esforço.
Essas têm 10 vezes mais visualizações do que um texto que demorámos 2 a 3 dias
a fazer.
Formandos - Acredita que o jornal impresso será substituído pelo
jornal digital? Se sim, o que acontecerá aos jornais com menores dimensões?
Paulo Narciso - Não.
Exatamente por não acreditarmos que continuamos a investir no papel, nós também
temos todas aquelas partes, Facebook, sites, telemóveis, mas continuamos a
acreditar que o papel terá um peso importante.
Formandos
- É uma realidade que cada vez mais as pessoas não ligam a coisas importantes
ou culturais com conteúdo. Cada vez mais o que se trata são banalidades… Não o
preocupa que o jornalismo esteja a morrer, as pessoas leem cada vez menos?
Paulo
Narciso - De uma maneira
geral, em relação ao jornalismo, anteriormente fazia-se de maneira diferente.
Em certas visitas estatais haveria a necessidade de usar o excelentíssimo
senhor doutor, ou, no vosso caso, teríamos de por todos os vossos nomes
completos.
Era
outro tempo, com diferentes modos e regras. Havia mais poesia. Mais texto. Agora
é tudo mais seco… dantes as pessoas faleciam… hoje morrem. Hoje em dia vivemos
muito online!
E
como se financiam estes projetos? Não é a publicidade da ‘’mercearia’’ que nos
vai financiar. Não… estamos condicionados. As grandes receitas vêm das grandes
marcas. Apenas 10% vêm de outros, está tudo condicionado, os outros ficam com
os restos.
Em
relação ao condicionalismo jornalístico a profissão de jornalista está quase
acabada, hoje fala-se em gestores de conteúdos. Hoje em dia, tira-se um curso
de jornalismo e se calhar vai para uma redação e faz tudo menos jornalismo… vai
fazer coisas banais. O jornalismo global é mais instantâneo.
Onde
se vai buscar o dinheiro? Primeiro estão a ver a notícia online e cai-lhe logo
um vídeo em cima depois escolhem e botam para escolher o vídeo max. 20/30
segundos e depois aparecem 3 frases da noticia. Por cada click então a dar
dinheiro à empresa. As marcas depois perguntam quantos clicks têm por hora…
‘‘tem 2 milhões’’ ok, pagamos ‘x’!
As
pessoas perguntam quanto é a tiragem do Correio do Ribatejo. 5 mil exemplares…
mas, online são os clicks que contam. Os gostos, as partilhas, etc…. é isso que
é vendido! É Isso que as marcas pretendem saber, para apostar nesse projeto ou
não. Em certa medida, algumas dessas empresas aderem por aí …. Dá-lhes receita!
Nós
temos alguma receita com a publicação online, temos feito pelo nome, mas o
sustento da casa tem sido o formato em papel… o site não paga os custos que
temos. É preciso licenças para ter o site, blog etc…. os custos para estar
online, envolvem ter um servidor, mas são reduzidos em relação ao papel!
Nesta
indústria, há concentração do dinheiro, pelos mesmos grupos (tubarões). Hoje em
dia são esses grupos que concentram o poder da imprensa. Que têm 2 ou 3 rádios
e 6 jornais, tudo da mesma empresa. Em Portugal são muito poucos os verdadeiros
patrões. Há mais de 30 a 40 mil jornalistas sem fazer nada.
Formandos – Consegue a poupança reduzindo
a qualidade da impressão?
Paulo Narciso - São
altos os custos de imprimir 4 edições mensais do jornal. Lá fora é mais barato
imprimir e mandamos imprimir em Vigo (Espanha). Isto
é tudo papel importado. Este, por acaso, vem da Alemanha e é impresso em Vigo.
Este jornal é fechado em Pdf até às oito horas da noite de quarta feira. É
fechado em Pdf’s e mandado para a gráfica que trabalha com chapa. Já não há
muitas a trabalhar aqui perto. Já não há rotativas. Mirandela tinha uma
rotativa em que dentro da máquina trabalhavam 12 pessoas e tinha 3 andares, aliás,
o armazém de Mirandela foi feito à medida da máquina. Primeiro compraram a
máquina e só depois fizeram o armazém à medida da máquina… aquilo era um
castelo.
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